quinta-feira, 4 de outubro de 2007

A Implantação do Comunismo na Rússia, Andreia Santos e Andreia Teixeira

Lenine em plena revolução russa de 1917
Introdução
As (duas) Revoluções Russas foram formidáveis movimentos de massas e ideias que deram novo perfil a História da Humanidade: transformaram a vida de milhões e empolgaram ou aterrorizaram outros tantos. A bibliografia sobre ambas é vastíssima e continuam a provocar polémica. Naturalmente que isto se deveu a uma maior integração económica e comercial do mundo, assim como pelo desenvolvimento das comunicações. Os sociais-democratas defendiam as seguintes posições:
A prática do terrorismo era absolutamente inofensiva pois não abalava a estrutura do regime: "de que adianta abater o czar se o czravitch está logo ali para substituir o seu pai? ". Era necessário desenvolver um longo e amplo trabalho de "preparação" das massas, através da propaganda e da agitação. Levá-las à consciência da certeza da derrubada do czarismo como um todo e não em acções isoladas.
Favorecer a implantação do capitalismo na Rússia. Quanto mais empresas e indústrias lá se instalassem mais cresceria o proletariado urbano e favoreceria o surgimento da única classe verdadeiramente revolucionária. Ironicamente, esta posição dos marxistas, serviu para que fossem vistos como menos perigosos pela Okrana, a polícia secreta do Czar, que passou dedicar maior atenção àqueles que, no momento, lhes pareciam mais ameaçadores, os terroristas populistas.
Os mencheviques, influenciados pelo pensamento convencional do marxismo europeu, afixavam:
Ÿ A formação de um partido o mais amplo possível, considerando todo colaborador - directo ou indirecto como um membro do partido;
Ÿ Não acreditavam na possibilidade da Rússia transitar rumo ao Socialismo sem antes percorrer o desenvolvimento do Capitalismo;
Ÿ Como consequência, deveriam aliar-se à burguesia para depor o czarismo.
Os bolcheviques liderados por Lenine, tinham outra proposta:
Ÿ O partido deveria ser formado por revolucionários profissionais, só sendo membro quem militasse activamente nas suas fileiras, isso devia-se à permanente infiltração de "agentes provocadores da polícia secreta do czar e pelas condições gerais da repressão na Rússia, que não permitiam a existência de um partido "aberto";
Da Revolução de Fevereiro à Revolução de Outubro:
«A insurreição começou, de facto, em pleno dia e do modo mais natural. O Governo Provisória tratava de enviar a guarnição de Petrogrado para a frente de batalha (com a Alemanha, durante a primeira Grande guerra). A guarnição de Petrogrado era composta de 60 000 homens que tinham desempenhado um papel de primeiro plano na Revolução. Foram estes homens que mudaram o curso dos acontecimentos durante as grandes jornadas de Março, os que tinham criado o Soviete de Deputados de Soldados e repelido Kornilov às portas de Petrogrado. Grande número destes homens tinham se transformado em bolcheviques. (…)
Era evidente que qualquer tentativa de insurreição dependia da atitude da guarnição de Petrogrado. Por esse motivo o Governo Provisório queria substituir os regimentos da capital por tropas de confiança: os cossacos e batalhões da morte. Os comités do exército, os socialistas moderados e o Tsik partilhavam da mesma opinião. Assim, pois, organizou-se na frente e em Petrogrado uma vasta campanha que tinha como base o facto de haver oito meses que a guarnição de Petrogrado levava boa vida nos quartéis da capital, enquanto na frente os camaradas, esgotados, morriam de fome nas trincheiras (…).
A 25 de Outubro, à porta fechada, o comité central do Soviete de Petrogrado examinou a criação de um comité militar especial que decidiria sobre a atitude que devia ser adoptada. (…) A 29 de Outubro, no curso de uma sessão pública do Soviete de Petrogrado, Trotski propôs o reconhecimento oficial, pelo Soviete, do Comité Militar Revolucionário. (…)
A 30 de Outubro, numa assembleia de representantes de todos os regimentos de Petrogrado, foi adoptada a seguinte resolução: “A guarnição de Petrogrado não reconhece o Governo Provisório. O Soviete de Petrogrado é que é o nosso Governo. Só obedeceremos ás ordens que emanem do Soviete de Petrogrado por intermédio do seu Comité Militar é Militar Revolucionário.”
John Reed, Dez dias que Abalaram o Mundo, Europa-América, 1976
As três etapas da Revolução de 1917
De Fevereiro a Julho: O governo encontrou-se dividido entre o Governo Provisório liderado pela burguesia, classe-média e sectores da nobreza liberal e os Sovietes (de operários soldados e marinheiros) sem cuja aceitação pouco podia ser feita.
De Julho a Setembro: a insistência do Governo Provisório em manter o país na guerra contra a Alemanha, levou a exacerbação dos sectores populares e, tanto os bolcheviques (em Julho) como os contra-revolucionários (em Setembro), tentam derrubar o governo de Kerenski (um social-revolucionário) que representava a aliança entre os liberais, os mencheviques e os social-revolucionários. A tentativa direitista do Gen. Kornilov fracassa. Os bolcheviques que haviam sido perseguidos e presos (inclusive obrigando Lenine a refugiar-se temporariamente na Finlândia), voltam a gozar de popularidade.
De Setembro a Outubro: a ofensiva militar contra os alemães, organizada por Kerenski (pressionado pelos aliados franco-britânicos) é derrotada. Milhares de soldados abandonam o fronte, desertando em massa, terminando por engrossar as fileiras dos bolcheviques que prometiam paz imediata e distribuição das terras para os camponeses. O Governo Provisório não tinha mais condições de subsistir. No dia 25 de Outubro, os bolcheviques apoiados pelos principais regimentos de Petrogrado, pelos marinheiros da esquadra do Báltico e da Fortaleza de Kronstadt, e pelos Guardas Vermelhos (operários armados) tomam de assalto o Palácio de Inverno – sede do Governo Provisório. O mesmo acontece na maior parte do país, havendo apenas resistência maior em Moscovo. O golpe de Estado desfechado pelos bolcheviques foi incruento – poucas foram as vítimas em Outubro e Novembro. O país ainda teria que enfrentar uma ameaça ainda maior que a própria guerra – a guerra civil (1918-21) que atingiria todas as aldeias e rincões do país, levando-o à completa exaustão e a mais de um milhão de mortos.
A NEP e a reconstrução nacional
Em 1921, foi criada a NEP (a Nova Política Económica) que restabelecia as práticas capitalistas vigentes antes da Revolução. Os camponeses passariam a vender uma pequena parte da produção para o Estado a preço fixo, o restante podia ser vendido no mercado. Também permitiu o desenvolvimento de empreendimentos capitalistas na pequena indústria e no comércio. O estímulo pelo ganho pessoal foi reintroduzido e o igualitarismo teve que ceder passo à hierarquia e aos privilégios materiais. O país passou a ter uma constituição produtiva retrógrada, medidas socialistas (estatização das empresas, minas, transportes e bancos), conviviam com medidas capitalistas (o médio produtor rural, o capitalismo urbano) e com a economia tradicional (economia de subsistência empregada pelos camponeses pobres). Permitindo no entanto a sobrevivência do regime dando-lhe folga necessária para a reordenação de forças. O próprio Lenine teve dificuldade em definir o estado de coisas, que ironicamente classificava: como "uma mistura de czarismo com práticas capitalistas besuntadas por um verniz soviético". Os resultados práticos não demoraram a surtir efeito. Lentamente a produção agrícola foi sendo restabelecida; o sistema viário voltou a funcionar com maior regularidade e as pequenas indústrias começaram a lançar os seus produtos no mercado.
Conclusão
Estas condições favoreceram uma profunda acção de reconstrução económica interna, concebida e planeada por Lenine (a NEP), a qual, através de um recuo estratégico ao restabelecimento da pequena livre iniciativa e da pequena propriedade privada, e admitindo o apoio de financiamentos estrangeiros, conseguiu que, até 1927,a URSS atingisse níveis de produção idênticos aos de 1913.
Bibliografia
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/rev_russa8.htm
Cadernos de História A7, de Pedro Almiro Neves, Ana Lídia Pinto e Maria Manuela Carvalho – Porto Editora.
Ÿ Cadernos de História A7, de Pedro Almiro Neves, Ana Lídia Pinto e Maria Manuela Carvalho – Porto Editora.