segunda-feira, 5 de novembro de 2007

A traição das imagens em Magritte, por Susana Pereira

Mas o que são na verdade todos esses objectos? (parece perguntar a obra de Magritte). Uma aparência enganosa, já que sua obra não contém objectos, mas somente representações pictóricas de objectos. "Isto não é um cachimbo" ("Ceci n'est pas une pipe"), provoca a frase pintada por ele debaixo de um cachimbo, que não era mesmo um cachimbo mas somente a pintura de um cachimbo. E feita esta distinção, vemo-nos às voltas não mais com um cachimbo (que nem era mesmo mas somente a pintura de um cachimbo) mas o cachimbo que não estava lá (considerávamos como se estivesse antes de vermos a frase).
A imagem pintada do cachimbo (consciente depois do raciocínio provocado pela frase), a ideia do cachimbo (acesa em nossa mente graças à provocação do artista). Com tantos cachimbos falsos, afinal não tínhamos um verdadeiro.

E não foi só com cachimbos que Magritte armou essas divertidas confusões. Muitos de seus quadros exploraram o uso das palavras, fosse negando o que mostrava a imagem, fosse atribuindo-lhe um novo significado. Assim, um relógio podia aparecer legendado como "o vento", enquanto um cavalo aparecia como "a porta". Segundo ele, "um objecto não está entranhado em seu nome de forma que não possamos encontrar um nome melhor para ele". Estas experiências bizarras com a linguagem traziam para a pintura aventuras que William James explorava na literatura ("a palavra cão não morde") e Wittgenstein na filosofia ("não podemos adivinhar a função de uma palavra sem examinar seu uso, e a dificuldade está em remover os preconceitos que bloqueiam este caminho").

Quem foi René Magritte?
Magritte nasceu em 1898 e morreu em 1967. Ao ser classificado de surrealista, reagiu e disse fazer uso da pintura com o objectivo de tornar visíveis os seus pensamentos. Magritte foi de facto um surrealista, mas foi também um pensador. O seu trabalho é sempre complexo e obriga ao raciocínio, à interpretação e ao estudo. Os quadros de Magritte não podem ser simplesmente vistos. Precisam ser pensados. Todo o surrealismo tem um trago de loucura que revela toda a genialidade.
Magritte detestava falar dos seus dados biográficos, afirmando: “Detesto meu passado, assim como o de qualquer pessoa. Detesto a resignação, a paciência, o heroísmo profissional e os belos sentimentos obrigatórios”
Ao procurar o mistério que envolve as coisas e os seres, Magritte concebeu quadros que, partindo da realidade quotidiana deveriam ter uma lógica diferente da habitual. Magritte representa o mundo do real e do imaginário com uma superficialidade misteriosa, que impõe ao observador a reflexão de que é através da lógica dos seus pensamentos e das suas associações e não da transfiguração sentimental que surge o misterioso.
Magritte cria também uma linguagem pictórica que não podemos ignorar e que permite aprofundar a compreensão habitual do quadro.
Opinião pessoal: Não me identifico com cachimbos. Apenas decidi escolher este quadro, porque achei bastante interessante como René Magritte explica o que desenhou: não é um cachimbo, porque não é de verdade e sim um desenho- Esta é base do Surrealismo.
E como me “chamou atenção” decidi fazer sobre este mesmo quadro.