sexta-feira, 4 de abril de 2008

A estagnação do mundo rural e o surto industrial em Portugal, por Joana Santos e Susana Azevedo

Cartazes de apelo à modernização da agricultura, CUF, anos 60
Em meados do século XX, a agricultura ainda ocupava em Portugal quase metade da população activa.
Antes da guerra, houvera alguns projectos de restruturação fundiária, de reordenamento agrário e de modernização das técnicas agrícolas, estes projectos eram defendidos por um grupo minoritário que encontrou opositores, sobretudo nos grandes proprietários agrícolas. (constituíam um grupo de pressão que defendia os seus interesses e a manutenção do carácter rural tradicional de Portugal).
A guerra impediu que as reformas fossem avante e reforçou o proteccionismo, autarcia e a importância do grupo industrialista, defendendo que a modernização da agricultura viria por arrastamento do desenvolvimento industrial.
Houve alguma modernização, na agricultura do Alentejo e do Ribatejo nos anos 60. A compra de maquinaria e os investimentos nas maiores explorações e obras privadas de guerra foram favorecidas pelo êxodo rural e pela política de crédito aos melhoramentos agrícolas.
Houve algum emparcelamento do minifúndio; obras de hidráulica agrícola que permitiam a intensificação da exploração e da diversificação da produção: cultura do tomate (uso industrial) e a cultura do arroz e do milho.
Esta modernização não era suficiente, e não correspondeu as necessidades de uma população crescentemente urbanizada.
Graças ao desenvolvimento industrial e urbano, havia maior procura dos produtos agrícolas “ricos”, como a carne, leite, ovos…, em detrimento dos “pobres”, como a batata, vinho, cereais... A agricultura não respondia a mudança da procura alimentar.
Conclui-se que com o fracasso das propostas reformistas, não sendo prioritária a modernização e não se orientando a produção para o consumo, assistiu-se assim à perda de importância da agricultura na sociedade e na economia.
A guerra beneficiou a burguesia industrial e comercial, que, apesar da falta de matérias-primas e de combustíveis, pode aumentar as exportações, tais como os testeis, conservas, resinosas…, aproveitar o abrandamento da concorrência e a subida generalizada dos preços.
O Governo fez da industrialização, um dos elementos centrais da sua estratégia económica, partindo-se do princípio que o desenvolvimento industrial conduziria ao desenvolvimento global

Barreiro, anos 60
da economia. Criou-se uma política de substituição de importações, de criação de novas indústrias e de reorganização das existentes, no quadro de uma política económica nacionalista e autárcica.
Houve uma deterioração da situação comercial e financeira. Entre 1947 e 1951 decorreram conversações em Lisboa e Paris que visavam alterara a posição portuguesa em relação ao Plano Marshall (Portugal beneficiava de ajudas antes recusadas).
Foram concebidas novas formas de encarar o planeamento económico:
· I Plano de Fomento (1953-1958) - traduz o esforço da autarcia e os interesses de uma burguesia tradicionalista (programa organizado de investimentos públicos dando prioridade às infra-estruturas, electricidade, transportes e comunicações). Assentava na substituição de importações, na reserva do mercado interno e no baixo preço dos factores produtivos. Dada a exiguidade do mercado interno, não teve o sucesso esperado.
· II Plano de Fomento (1959 -1964) – seguem-se as mesmas políticas, mas marca-se o fim da autarcia e o inicio de um processo de abertura tanto com o avanço para as colónias (criação de um “espaço único português”) como com a abertura externa (adesão à EFTA).
· Plano Intercalar de Fomento (1965-1967) - no contexto da guerra colonial e da aceleração da emigração, é o primeiro plano global que dá prioridade à iniciativa privada (para fazer face à concorrência externa, no quadro da GATT).
· III Plano de Fomento (1968-1973) – consolida a abertura ao exterior e reforça a iniciativa privada.

Cartaz da CUF , anos 60

Conclui-se que entre 1950 e 1970, a indústria se tornou o sector socialmente determinante em Portugal, embora não fosse suficiente para absorver a população rural que a maquinização e os baixos salários expulsavam dos campos. Assim Portugal tornou-se progressivamente urbano e com um sector terciário em crescimento.

Joana Santos Nº 6
Susana Azevedo Nº 11