quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

A Imprensa no Século XX, por Andreia Santos


Introdução
Podemos começar, dizendo que a imprensa do século XX, foi um meio de comunicação de massa, isto é, capaz de difundir a informação por um grande número de pessoas e, simultaneamente, a grandes distâncias. A imprensa escrita foi capaz da uniformização dos comportamentos da sociedade (Estandardização de comportamentos).

O século XX chegava com a euforia futurista da revolução tecnológica. Os jornais começavam-se a transformar em empresas e a adoptar o telefone e o telégrafo como ferramentas de seu cotidiano. Os jornais ganhavam em actualidade e integração com pontos remotos e de difícil acesso. O passo seguinte foi a ampliação de redes de informação, com o estabelecimento de redes de correspondentes e enviados ao exterior. Além das agências de notícias, os jornais investiam cada vez mais em estruturas necessárias para obter informações de qualidade, em primeira mão e exclusiva. O conteúdo também passava por transformações. Declinava o folhetim que ia sendo substituído pelo colunismo, o artigo político pelas entrevistas, mais informações do que catequese, embora se procurasse a opinião desde que parecesse imparcial.
No começo do século XX surgiram alguns dos jornais que desempenharam e até hoje desempenham papel fundamental na vida brasileira, como o Jornal do Brasil e o Correio da Manhã, que nasceu e morreu na década de 1960. Mais tarde vieram A Noite (1911), de Irineu Marinho, e o O Jornal, adquirido por Assis Chateaubriant em 1913. Essas duas iniciativas foram o começo de uma série de empreendimentos que resultaram nos mais significativos fenómenos da comunicação no Brasil: a Rede Globo e os Diários Associados. Como o assunto, aqui, é imprensa, Chato, como o Brasil passou a conhecê-lo, montou uma cadeia de jornais que cobria todo o país e lançou a revista O Cruzeiro, um semanário ilustrado, que nos anos 50 chegou a vender 700.000 exemplares. E a iniciativa de Irineu Marinho transformou-se, na gestão de seu filho Roberto Marinho, no maior complexo de comunicação da América Latina e um dos maioresdo mundo.
Mas o que marcou a imprensa no início do século XX foi o surgimento de várias revistas ilustradas. Graças aos avanços tecnológicos no processo de impressão e da evolução das artes gráficas foi possível chegar a resultados surpreendentes. Um exemplo é a revista Kosmos, dirigida por Mário Behring de 1904 a 1906. Nela escreviam Artur Azevedo, Paulo Barreto, João Ribeiro, Vieira Fazenda, Lima Campos, Raul Perderneiras, Félix Pacheco, Coelho Neto Capistrano de Abreu, Medeiros e Alburquerque, Euclides da Cunha e Olavo Bilac. As revistas ocupariam o espaço dos jornais literários e tal qual na política cada uma abrigava os autores de seu género. Assim, as que vieram a seguir se dividiam. A Fon-Fon era porta-voz dos simbolistas, e a Careta, dos parnasianos, ilustrados pelo traço genial de J. Carlos. A Careta foi a revista mais popular de sua época e podia ser encontrada nas antessalas de consultórios, nas barbearias e nas estações. Sua distribuição inovou ao usar carteiros como entregadores. Nela escreviam Martins Fontes, Olegário Mariano, Aníbal Teófilo, Alberto de Oliveira, Goulart de Andrade, Emílio de Menezes, Bastos Tigre, Luís Edmundo e foi em suas páginas que Olavo Bilac publicou os mais belos sonetos de A Tarde. Marcaram época também O Malho, Ilustração Brasileira e Para Todos, que mais do que informar buscavam repercutir as diferentes manifestações da cultura da elite e, sem dúvida, o que acharam de mais original foi o humor de suas caricaturas.


A Propaganda Impressa no Século XX

As revistas, mais do que os jornais, se prestavam aos anúncios que exigiam maior apuro técnico. No Rio imperavam a Revista da Semana, O Malho, A Careta, Fon-Fon e Ilustração Brasileira. São Paulo lia Vida Paulista, Arara, Cri-Cri e A Lua. Vendo hoje, todas surpreendem pela qualidade de impressão e pelas programações de anúncios em posições fixas. De um modo geral as revistas daquele período eram influenciadas pelo francesismo do art-nouveau, mas a publicidade era um espelho das técnicas comerciais americanas que nos chegavam através das primeiras agências de publicidade a se instalares aqui. Antes delas a publicidade acontecia através do “agenciador de anúncios”, geralmente um funcionário do jornal ou revista responsável pela venda de espaço e através de ilustradores e redatores do próprio veículo, que criavam as peças publicitárias. O Jornal do Brasil detinha o monopólio dos chamados “pequenos anúncios”, hoje conhecidos como classificados, que chegaram a ocupar 85% do espaço do jornal.
Por volta de 1913, um grupo de agenciadores, jornalistas e ilustradores de São Paulo, liderados por Eugénio Leuenroth, fundava a primeira agência brasileira: Castaldi & Bennaton, que logo mudou o nome para A Eclética. Inicialmente trataram de fazer o levantamento dos veículos e dos cartazes ao ar livre. Depois foram conhecer o outro lado: os leitores. Era preciso estudar o mercado consumidor, pesquisando os diferentes públicos e seus padrões de consumo. A seguir desenvolveram acções promocionais organizando salões de automóveis, concursos e prémios nacionais. Foi o início de uma actividade que só fez crescer a partir daí em diante, acompanhando o processo de industrialização do país.
Os periódicos foram sendo influenciados pela profissionalização das agências de propaganda que anunciavam nos jornais ou revistas mais reconhecidos. A opinião pública era cada vez mais estudada e considerada pelos editores.
Quando surgiu o cinema e depois o rádio imediatamente foram editadas revistas como Cena Muda e Revista do Rádio, respectivamente já prenunciando a segmentação do mercado e as oportunidades comerciais dos novos meios.

A Modernização da Imprensa

Foi no Rio de Janeiro que se instalou, em 1906, o Jornal do Brasil e seu moderníssimo equipamento gráfico, com os primeiros linótipos, máquinas de impressão a cores, e sistema foto mecânico. Era o maior parque gráfico da imprensa brasileira e tinha a redacção mais moderna, com máquinas de escrever para toda a equipe de jornalistas. A diagramação também foi reformulada, com o cabeçalho impresso em vermelho e o famoso “L” de classificados na primeira página. No editorial de relançamento a direcção esclarecia que “o jornal não é político nem faz política, tomando o vocábulo na acepção que o uso, entre nós, lhe atribuiu”.
De 1900 a 1910 o Jornal publicou a secção “Queixas do Povo”, um espaço aberto para quem quisesse reclamar do governo. As queixas eram publicadas de graça, dando voz a qualquer cidadão, inclusive a analfabetos, que podiam queixar-se directamente à redacção do Jornal. O espaço era oferecido “a pessoas expostas à acção do Governo e que não dispunham de outro canal de comunicação para manifestar sua indignação”. O Paiz e a Gazeta de Notícias tinham também secções de queixas e reclamações, mas eram jornais comprometidos com o regime, e por isso nem sempre podiam defender os interesses dos queixosos.
Outra inovação do JB aconteceu em 1912, quando passou a dedicar uma página inteira ao desporto. Além disso, a sua equipa de ilustradores reunia os melhores cartunistas e charadistas da época.
A Revolução de 30 significou um retrocesso para as liberdades individuais e políticas. Foi um dos períodos mais difíceis para a imprensa brasileira. A Constituição postiça, “a Polaca”, promulgada em 1936, edificava o arcabouço jurídico de Estado Novo de Getúlio Vargas e instituía o Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP –, com poder de controlar e censurar meios de comunicação. Muitos jornais, revistas e rádios sofreram intervenção, alguns foram impedidos de circular, e muitos foram simplesmente “empastelados”.
Nos anos 50 Pompeu de Souza fez a reforma do Diário Carioca, inovando o estilo jornalístico ao introduzir a técnica do lead e o trabalho de copydesk, realizado por um corpo de redactores cuja missão era valorizar o estilo da redacção.
A reforma do Jornal do Brasil, começada por Odylo Costa Filho, em 1956, revolucionou a linguagem jornalística no Brasil do ponto de vista do texto e, principalmente, da diagramação. O Projeto gráfico do artista mineiro Amílcar de Castro simplificou a página, valorizou as fotos e tornou a leitura muito mais fácil. O Caderno “B” ditava moda e padrões de comportamento além de conferir valor à produção cultural. A Bossa Nova, o Cinema Novo, os concretistas, a arquitectura moderna, os festivais, nada poderia se considerar consagrado sem antes ter saído nas páginas do “B”.
Durante os governos Dutra e Juscelino Kubitschek subvencionaram a importação do papel a pretexto de ressarcir as empresas jornalísticas dos prejuízos produzidos pelo DIP durante a ditadura de Vargas. Na verdade, era um subtil mecanismo de controlo que o governo poderia exercer sobre a imprensa.
Talvez as principais mudanças da imprensa na segunda metade do século XX tenham sido as revistas semanais e a imprensa nanica. Em Setembro de 68 a editora Abril lançava a revista Veja, dirigida por Mino Carta. Três meses depois o governo decretava o AI-5 e impunha todos os instrumentos de controlo da informação. O limite entre o proibido e o permitido era extremamente subjectivo, o que obrigava um vai e vem de editores a Brasília na tentativa, nem sempre bem sucedida, de convencer os censores da inocência das matérias que, se vedadas, poderiam inviabilizar uma tiragem inteira. Veja foi apreendida mais de uma vez, assim como Realidade, Visão, Senhor, Repórter e toda e qualquer publicação que ousasse desrespeitar as proibições da censura.
Da mesma forma que no século XIX jornais eram lançados para alimentar lutas pela independência, abolição e república, durante a ditadura militar nasceram vários tablóides, à frente o Pasquim. Um instrumento poderoso de resistência à ditadura, usando como principal arma o humor. Millôr Fernandes, Jaguar, Tarso de Castro, Sérgio Cabral, Henfil, Paulo Francis, Flávio Rangel, Ziraldo e Luís Carlos Maciel fizeram pela democracia o que nenhum grupo armado conseguiu: a desmoralização sistemática e implacável do autoritarismo e das figuras públicas responsáveis pelo governo dos militares. O Opinião e o Movimento foram tablóides de vida mais curta, mas tiveram importância, publicando artigos de fundo e críticas ao regime.
O fim da ditadura encontrou uma imprensa que se especializara na metáfora, no ato de informar usando os mais diferentes artifícios para fintar a vigilância da censura federal. Não era fácil de um dia para o outro administrar a liberdade e ter que conciliar os interesses de uma empresa com fins lucrativos e os objectivos de um serviço público cuja missão era, e é, informar com isenção.

Conclusão
Podemos concluir que a imprensa escrita teve um grande desenvolvimento durante o século XX. De um espaço que era controlado pelas censuras para um espaço em que havia liberdade de expressão.

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